An End to Fate

segunda-feira, março 15, 2004

A perseguição - Cotidiano 1

Prólogo - A perseguição.

Gritos, luzes, cachorros ladrando. Uma mulher corre pelas ruas da cidade antiga. Vozes de homens vêm de todos os lados, a mulher precipita-se sobre uma rua estreita, várias casas abandonadas se estendem até onde ela consegue ver, postes com lâmpadas piscando mal conseguem iluminar a ruela. Uma lâmpada estoura. Na escuridão a mulher treme.
- Ei caras! Os cachorros farejaram alguma coisa, deve ser aquela vaca!!
A mulher não pensa; continua a correr embora todo o seu corpo cansado e machucado implore que desista. Ouve os cachorros latirem. Os homens devem ter soltado as coleiras. Ela corre na direção da ponte. Ela precisa atravessar. Ela tem que atravessar. Os ganidos aproximam-se cada vez mais perto, ela quase pode ouví-los babar. Na verdade é seu próprio suor encharcando os trapos que veste.
Por fim ela consegue atravessar a ponte, exausta, olha para trás. Os cães ainda estão vindo. A mulher entra em pânico, pensa que vai morrer. Teria sido melhor não ter fugido?
Tropeça num batente de esquina e cai. É o fim, ela pensa. Os cachorros vêm, agora devagar, sabem que sua presa não mais resistirá. Aproximam-se arfando. A mulher fecha os olhos, prefere não ver sua desgraça. Pararam de arfar, nem ao menos ganem. Por que diabos não atacam?
Toma coragem. Abre os olhos, levanta a cabeça. Tira os cabelos esparramados da fronte e joga-os para trás. Estão todos parados. Olhando. Seus olhares brilham com uma luz insana, olham através dela. De repente começam voltar correndo e ganindo.
Pouco a pouco seus outros sentidos voltam a tona. Escuta um som agudo, quase um assovio.
Lanternas, os homens vêm aí. Faz força. Torceu o tornozelo. Mal consegue entrar no beco que conseguia ver da esquina onde estava. Os malditos homens vêm atrás, arrastando os cachorros. Ela vê um mendigo. Ele vem do fim do beco na sua direção. Será possível que todos os homens querem possuí-la ?
O mendigo usa um sobretudo que parece mais uma mortalha surrada e um velho chapéu de aba larga. Do outro lado, seus captores e seus porretes, correntes e facas.
- Calma.
Disse o mendigo. A voz dele é tranquila, mas não a tranquiliza.
Os homens param, um deles, o mais jovem, querendo demonstrar sua habilidade, começa a girar a corrente. O mais velho faz um gesto obsceno para a mulher. Os três homens avançam.
- Sai da frente ô mendigo! Tu não quer se encrencar com a gente, quer !?
Disse o jovem da corrente numa tentativa de intimidar o mendigo.
O líder prefere métodos mais eficazes. Tenta acertar um soco na cara do mendigo.
O mendigo segura seu punho. Puxa-o, pisa na cara do homem e empurra-a enquanto o puxa pelo braço, quebrando seu pescoço. Os outros dois param. O jovem está pasmo. O outro tem uma reação mais rápida, tenta cortar o mendigo com sua faca.
De dentro de seu sobretudo o mendigo tira uma bengala, que usa para desarmar o homem. A mulher e os cachorros assistem a esses movimentos quietos, como num filme. O mendigo puxa o homem com o cabo da bengala e o faz bater a cabeça num poste. O jovem larga a corrente. O mendigo faz uma linha na areia por cima do chão da rua.
- Se você passar desta linha. Você morre. Vá e leve este idiota com você.
A voz do mendigo continuava tranqüila.
O jovem apanha o companheiro desacordado e parte. O mendigo se vira e começa a andar de volta ao fundo do beco. Quando ele passa pela mulher, ele sopra um tipo de apito de madeira que faz um som muito agudo. Os cachorros começam a correr.
Pânico. Era o que ela vira em seus olhos. Os cachorros tinham pânico.
A mulher faz um esforço tremendo para levantar-se e alcançar o homem, mas ela tropeça e cai nas costas. O homem, então, a segura e começa a ajudá-la a caminhar.
Milhões de perguntas fervilham na cabeça da mulher.
- Co-como você fez isso?
Pergunta a mulher tentando uma aproximação.
- São Rottweilers... treze oitavas acima de dó maior dão conta deles...

Cotidiano 1

Os dias têm sido cansativos, chego à casa tarde da noite. A tempo para ouvir as brigas dos meus pais. Geralmente termino escutando comentários como: Teve filhos porque quis ! Cala a boca Satanás ! Entre outros que não me convêm mencionar.
Depois de tantos anos escutando isso talvez eu esteja me tornando insensível. Ou talvez o meu cérebro junte e jogue tudo de uma vez pra eu me sentir mal apenas durante um dia o que eu deveria sentir de pouquinhos no dia-a-dia.
Não lembro qual foi o dia, mas essa semana lembrei de vovó Aidine. Ela não era minha vó, mas era como se fosse. Fazia doces, conversava comigo, contava histórias e ríamos juntos. Ela morreu atravessando a rua do Derby Center. O cachorro correu, ela foi atrás. Um carro passou por cima dos dois. Eu nunca tive a chance de dizer adeus.
Vovó Aidine, eu te amo. Nunca vou esquecer a senhora.
Apesar de tudo isso a minha mente anda cheia de idéias. Desconfio que seja um artifício do meu cérebro pra não ter tempo de pensar sobre coisas ruins. Como eu amo meu cérebro!
E quando tudo mais falha, eu tenho minhas certezas absolutas, que também não convêm revelar, mas que me tranquilizam e me deixam feliz novamente. Além das certezas, existem os amigos que chamo de lugares felizes ou "happy places", quando estou perto deles não consigo me sentir triste.
Terminei de escrever a primeira história do meu projeto Recife Runs. Como ninguém me enviou nada (isto não é uma exigência de um texto, apenas alguns comentários, justamente porque sei que vocês não têm tempo), comecei com Raony... e como ele não lê este blog, não sabe de nada. Espero que tenham gostado do conto A perseguição.

Uma musiquinha de uma banda que ninguém conhece pra relaxar:

Check Battery Daily - Eighties

I remember the good times, about ten years ago
Synthetic melodies coming through the radio
We fell in love, for the first time at all
Those were the good days I like to recall

Those were the eighties, they will never come back
Since then we're waiting, for them to ressurrect

We danced for the first time with our new grey cotton shirts
We had to find out that love is something that hurts

I gotta go back, I belong to history
I can't face the fact, that nothing is like it used to be

Those were the eighties, they will never come back
Since then we're waiting, for them to ressurrect