An End to Fate

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Capítulo 5 - Choque

Praia, fim de tarde, um sobrado perto da antiga praça. Um homem vestindo jeans gastos pelo tempo vem andando pela calçada até o pórtico de entrada do sobrado. Confere o endereço numa folha amarelada de papel e olha por cima da grade. Do lado da construção principal há um jardim. Logo alguém de dentro da casa nota sua presença e vem atendê-lo. Uma velha senhora.
- Pois não?
- Eu vim da parte do senhor Remi. Preciso falar com o homem.
- Olha, poderia voltar uma outra hora? Ele não está se sentindo muito bem.
Do primeiro andar ouve-se uma voz rouca e dissonante:
- Deixe-o entrar.
A velha abre o portão. O homem de jeans entra e olha ao redor, a casa é usada como uma espécie de abrigo para desamparados. Alguns poucos velhos e crianças pequenas.
Uma menina faz sinal para que o visitante a siga:
- Venha por aqui.
O homem segue a menina subindo as escadas. Chegando ao primeiro andar ele vê um quarto extremamente bagunçado. Cacos de vidro, desenhos em pedaços, uma cama quebrada e um tabuleiro de madeira maciça com pedras pretas e brancas espalhadas numa ordem caótica.
O homem chega até a porta e vê na varanda do quarto um homem acocorado sobre um vaso em cujo centro há uma flor negra, ao seu lado uma pá de jardineiro e adubo.
O jardineiro não se vira.
- S-s-senhor. Trago um recado do seu amigo. Mandou dizer que encontraram Caio, digo, Cai-us. - Muito bem. Desça. Sirva-se com os outros. Diga ao seu chefe que talvez eu resolva aparecer.
O homem de jeans sai tremendo. A voz do jardineiro, rouca e instável, mas estranhamente ameaçadora, o fazia sentir-se mal.
A menina, que havia presenciado tudo entra no quarto e observa o homem replantar a flor e depois regá-la.
- Pai, por que você nunca sorri? Acabou assustando o mensageiro.
- Meu sorriso é feio.
- Eu quero saber o motivo de verdade, não uma desculpa meia-boca como essa.
- Um dia eu te conto. Mas não hoje. Agora vá lá pra baixo e ajude o pessoal.
- Promete?
- Não. Você vai ter que confiar em mim.
O homem pisca para a menina e ela sorri.
A menina sai do quarto e vai descendo as escadas. O homem coloca o vaso em cima de uma cômoda e ao observar a rua, vê na praia outro homem, cabelos negros, pele escura. Pula da varanda e cai em pé no chão fofo do jardim. Depois, abre o portão e atravessa a avenida coberta de areia até chegar ao lugar perto dos coqueiros.
- Olá!
- Olá.
- Posso falar com você?
- Pode falar.
-Você não vai visitá-los?
- Talvez.
- ...
O jardineiro se encosta numa das placas com dedicatórias dos coqueiros. A maresia deixou a placa ilegível.
- Bom, eu vou visitá-los, provavelmente.
- Então faça um favor e mande lembranças por mim.
- Porque você não vai?
- Tenho coisas pra fazer.
- O que é mais importante...
O homem é interrompido pelo jardineiro:
- Vou enterrar o corpo de um amigo. Que matei hoje de manhã.
Então ele pára. Por um momento seu sangue gela. Enquanto isso o jardineiro vai saindo da praia enquanto a lua começa a surgir no céu vermelho-azulado do início de noite.